Ao entrar em uma sala de yoga para uma aula coletiva encontramos pessoas bem diferentes umas das outras em muitos aspectos e aprendemos a respeitar e admirar a diversidade e a valorizar o que cada um de nós tem de único e excepional. Um dos aspectos em que somos às vezes muito diferentes do nosso vizinho de tapetinho é a flexibilidade. Aaaaahhhh, a flexibilidade…
Normalmente os mais “duros” olham para o vizinho hiperflexível com uma baita inveja, almejando ter a mesma facilidade na execução dos asanas (posturas). Porém, a flexibilidade natural do corpo pode ser um “presente de grego”. Pessoas altamente flexíveis (aquelas que já eram assim antes de iniciar a prática de asanas) muitas vezes correm o risco de “descansar nos ossos” em vez de usar os músculos para segurar determinada postura. Além de não estarem trabalhando para melhorar seu ponto fraco (a força), muitas vezes estão completamente desalinhadas na postura para entrar na profundidade máxima possível, onde elas se sentem bem. E desalinhamento e profundidade excessiva na postura quase sempre levam a lesões. A dica para o pessoal que costumo chamar carinhosamente na aula de “Cirque du Soleil”: quando chegar a seu máximo, recue alguns centímetros da postura, ali onde você sente seus músculos acionados, ali onde você tem de aceitar que não é a pessoa que está na profundidade máxima da postura, ali onde você tem de se esforçar para segurar o asana. Saia de sua zona de conforto, cuide de seu alinhamento e fortaleça seus músculos! Na medida em que os anos vão passando, você vai precisar cada vez mais deles. 😉
O conceito de zona de conforto de pessoas flexíveis normalmente tem o significado oposto do de pessoas menos flexíveis. Os mais flexíveis ultrapassam os limites e muitas vezes ignoram o alinhamento para se situar em uma posição em que se sentem confortáveis. Os menos flexíveis tendem a ficar sempre um pouco antes da posição que incomoda, do desconforto de esticar um pouquinho a mais do que o ponto em que está bom ficar na postura.
A vida nem sempre é confortável. Assim também é a aula de yoga. O que aprendemos na sala é respirar para dentro deste desconforto e aprender a lidar com ele na nossa mente. Assim fica mais fácil lidar com os desconfortos da vida fora da segurança da nossa sala de yoga.
A regra básica é sempre: alinhamento e controle da respiração. Todo o resto é consequência da boa execução destes dois princípios. Lembre-se: o ego não veio para a aula e seu vizinho está pouco se importando se você vai abrir um espacate na Dandayamana Dhanurasana. Quando você perceber que sua prática é só sua e admitir que é saindo da zona de conforto que os reais progressos vão começar a acontecer, você estará praticando yoga de verdade!